Literatura e História: a escravidão em foco
Os impactos da Escravidão Moderna são visíveis até hoje no nosso país. O racismo institucionalizado no Brasil, tem sua origem no grande mercado que foi a escravidão africana durante o período colonial e imperial.
518 anos após a invasão dos portugueses por essas terras duas coisas são certas: O sistema escravocrata permaneceu por mais tempo nessa história do que a democracia, por exemplo (1500-1888) e mesmo durante o nosso processo de formação nacional mantivemos esse sistema, portanto, nas palavras do historiador João Fragoso, a culpa é nossa, por manter esse sistema por mais meio século.
O sistema escravocrata continua figurando como um dos temas mais debatidos e pesquisados pela historiografia brasileira. Sobretudo, depois da publicação das Leis 10.639/03 e 11.645/08, as quais instituíram a obrigatoriedade sobre a história e cultura dos povos afro-brasileiros e indígenas. Com a homologação das respectivas leis houve um avanço nas pesquisas históricas sobre o assunto, principalmente para a produção de material didático e cursos de formação sobre a temática.
Falar sobre a escravidão nesse país, significa resgatar uma dívida histórica, com os milhares de seres humanos que foram forçados a atravessar o Atlântico e trabalhar em situações deploráveis. Significa deparar-se com castigos, exploração da mão de obra, perseguição a cultos religiosos e manifestações culturais. Ao mesmo tempo, propõe-se deparar com formas de negociação entre senhores e escravos, formas de luta e resistência.
Nas palavras do historiador João Fragoso, as formas de negociação seriam fundamentais para a manutenção do sistema escravocrata, conforme entrevista dada à Folha de São Paulo, em fevereiro de 2016:
Folha - A escravidão não pode ser fundada só na violência?
Fragoso - Exato. Eles recebiam alguma coisa em troca. Eram reconhecidos alguns direitos costumeiros, como por exemplo a possibilidade de terem famílias, terras, de terem acesso a maquinarias de beneficiamento. Isso lhes dá poder, e é fruto dessa negociação. Se por um lado servem, ou lutam ao lado de seus senhores, por outro recebem alguma coisa.
Se fosse apenas conflito, esse país seria um barril de pólvora e explodiria. O Brasil tem 500 anos, dos quais 300 com escravidão.
Tema sensível e de abordagem complexa, a escravidão ainda mantém seus resquícios no Brasil, embora, podemos perceber sensíveis melhoras sobre o assunto, como a Lei contra o Racismo (nº 7.716/89) e as lutas do Movimento Negro, presentes como forma de resistência contemporânea. Sabemos que há um grande caminho pela igualdade racial nesse país, mas negar nosso passado escravista não é o caminho mais justo com aqueles que construíram essa nação.
A luta contra a escravidão ganhou contornos mais politizados na segunda metade do século XIX. Livremente inspirado no clássico conto de Machado de Assis, Pai contra Mãe, obra disponível no Domínio Público, sugerimos aos alunos do 2º ano de Agrimensura e Meio Ambiente, do IFNMG, ano 2017. A elaboração de um conto, no qual, o/a protagonista estivesse sob condição de escravo. Foram diversos pontos abarcados, mas os que ganharam maior destaque envolviam a possibilidade de liberdade. Através dos contos, podemos descortinar uma série de questões a serem problematizadas, como o anacronismo, os mecanismos de luta, a compra de alforria, as negociações, entre outros.
Abaixo, selecionei dois contos realizados por esses estudantes e outro que eu criei inspirado no trabalho deles. Espero que gostem, pois foi uma experiência muito produtiva para nós.
Cosme - Fabrício Pereira
Luz na Escuridão - Luidy Siqueira
Sonho de Liberdade - Ricardo Murta
Para ver mais da entrevista do historiador João Fragoso: clique aqui
Para saber mais sobre o movimento negro e suas lutas: clique aqui
Fotografia: Congado na Cidade de Itaverava, 2018, acervo pessoal.
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