Postagens

Patrimônio (s)

Imagem
          Curiosamente a questão do patrimônio  sempre esteve presente na minha formação, desde o Projeto Cantaria - um projeto de extensão da UFOP - até as minhas próprias ações e vivências como professor do ensino técnico e básico. Confesso que nunca me apropriei como deveria do tema. As múltiplas demandas como estudante e professor fizeram com que eu executasse mais ações concretas sobre o assunto do que a dedicação à pesquisa da temática.      Compartilho dois artigos de projetos que executei nos últimos anos ligado ao Patrimônio. O primeiro foi um trabalho de contar memórias através de objetos antigos. Uma oficina que em alguns momentos chegou a emocionar os participantes. Eram memórias afetivas, como um café quentinho saído do bule feito pela avó no fogão à lenha.      O outro texto relaciona-se ao desafio de executar um projeto extensionista em meio ao caos da Pandemia de Covid-19, entre os anos de 2020-21. Nes...

Menino de Engenho

Imagem
No colégio, em meio às leituras obrigatórias, aprendi a gostar de ler. Lembro da professora que, com carinho, selecionava alguns livros para mim. Às vezes eu pegava um livro e ela dizia - “esse não é para você” - e apresentava uma obra mais clássica. Numa dessas, eu li “Menino de Engenho”, de José Lins do Rego. Não sei bem o que me fez gostar do livro na época, mas ficou guardado a lembrança de que era uma boa leitura.   Vez ou outra gosto de retornar a essas leituras do passado e comecei o ano lendo o “Menino de Engenho”. Uma aula de história! É um retrato da casa-grande e senzala do Gilberto Freyre, que mesmo com toda a problemática da tese central, não deixa de ter grande importância para a historiografia brasileira. À época da adolescência, eu tinha um mundo de possibilidades. Hoje historiador formado, penso que talvez ali era  plantada uma semente. As aulas da Fátima Guimarães eram boas, ela fez eu tomar gosto pela leitura. 

Viver é partir, voltar e repartir...

Imagem
Escrever, um ato solitário!  Em 2020 a pandemia chegou e dilacerou tudo. Aparentemente fizemos um pacto de não mencioná-la. Esquecemos os nossos mortos, 700 mil pessoas de carne e osso como nós. De um dia para o outro paramos de usar nossas máscaras (isso para quem um dia as usou). Deixamos para trás as aulas síncronas e assíncronas, as lives, etc. Alguém disse que haveria um "novo normal", tudo isso ficou esquecido.  Primeiro vieram as semanas difíceis, muita desinformação, deboche, um governo que orgulhava-se de ser ignorante. O medo de sair nas ruas. O álcool em gel em tudo. O espaço da casa virando trabalho.  Depois as primeiras saídas, mesas distanciadas, mais álcool em gel, máscara no queixo para conversar com os amigos...  A tão sonhada vacina: uma, duas, três, (quatro?) doses.  Afrouxamos, a covid voltou sorrateira, os números explodiram no início de 2021, regredimos novamente.  Todos (ou quase todos) tivemos uma história de perda, luto e tristeza....

As grandes navegações europeias e o comércio com a África

Imagem
Durante o século XV, os portugueses almejaram conquistar o comércio lucrativo com a Ásia. Dessa forma, financiado pelos reis e mercadores, os navegantes começaram a exploração do continente africano. No primeiro momento, o principal objetivo era descobrir as fontes de ouro que os mercadores muçulmanos transportavam no norte da África, via deserto do Saara. Além disso, buscavam um caminho para as Índias, que permitisse abrir concorrência com os comerciantes italianos, que tinham amplo acesso ao Mar Mediterrâneo. As mercadorias que vinham do Oriente, como especiarias e tecidos, eram lucrativas na Europa e, Portugal para entrar nesse comércio também precisava do ouro.             No século XV inicia-se, portanto, as Grandes Navegações. Contornando lentamente a costa africana, com um aparato tecnológico sofisticado naquela época, os portugueses foram pioneiros entre os europeus a estabelecer contato com os povos da África ocidental e...

"A ausência que seremos" considerações.

Imagem
“Já somos  a ausência que seremos. O pó elementar que nos ignora, que foi rubro de Adão, e que é agora todos os homens, e que não veremos Já somos sobre a campa as duas datas  do início e do fim. O ataúde,  a obscena corrupção que nos desnude, o pranto, e  da morte suas bravatas Não sou o insensato que se aferra ao som encantatório do seu nome. Penso com esperança em certo homem que não há de saber o que eu fui na terra. Sob o cruel azul do firmamento  consolo encontro neste pensamento” Numa terça-feira, 25 de agosto de 1987, pouco antes de ser brutalmente assassinado, o médico sanitarista Hector Abad Gomez escreve a mão o soneto de Borges, “Epitáfio”, transcrito acima. “A ausência que seremos” é um livro sobre essa ausência, que ainda clama por justiça, bem como várias vidas perdidas na América Latina, em nome de ideais, melhorias e de sonhos, que muitas vezes não nos permitem sonhar.   Confesso ...

Trechos de uma conversa no mar

Imagem
- Que prédio é aquele? - É o centro de ciências. É frequentado pelas autoridades: presidente, governadores... -É mal frequentado então. -Agora é, mas nem sempre foi assim. Sorrimos. *** Sou evangélica visse. Uma vez quebraram a estátua de Iemanjá na praia. Fui para a manifestação no Tambaú. No outro dia o pastor me chamou. Falou que viu uma moça parecida comigo no jornal. Respondi que era eu mesma. Sou uma ovelha que dou trabalho, disse rindo. Porque meu Deus é amor, ele gosta da diferença. Não tem preconceito. *** Thalita muda de assunto. Mostra as unhas cumpridas e bem feitas: “coloquei ontem, 20 reais, agora tenho que puxar as cordas com todo cuidado” e sorriu mais uma vez. *** - Vcs estão de férias? - Sim, já estão acabando. - Daqui a pouco vcs voltam para alimentar o capitalismo. *** As vezes vamos sertão a fora. Conversar com as pessoas. Tentar ajudar. Quero te contar uma coisa importante. Existe resistência dentro da igreja. Somos poucos, mas é nosso de...

Trabalho análogo à escravidão no Brasil

Imagem
A exploração do trabalho  No ano de 2017, começaram a surgir uma série de reportagens na imprensa internacional sobre o mercado de escravos na Líbia. O território líbio faz parte da rota migratória da África subsaariana para o continente europeu. Nesse circuito, milhares de subsaarianos, em pleno século XXI, começaram a ser apreendidos e vendidos no mercado de escravos, como relatou o jornal El País:  "Não se trata de sequestros em que se pede um resgate. Não se trata de condições de exploração. Não se trata de poder pagar pela sua liberdade. Trata-se de um tráfico de escravos em que moradores da Líbia compram subsaarianos para que trabalhem em suas casas, fazendas ou plantações sem salário de tipo algum –nada além de teto e comida– e sob um regime de violência. ( Leilões de escravos às portas da Europa )." A situação é agravante, uma vez que em pleno século XXI, o mundo deparou-se com um passado que julgava ter acabado.  Em julho do presente ano, em mais...